MATRIZES - Release
A herança africana nos ritmos da música popular brasileira
Cláudio Jorge e Luiz Carlos da Vila são os intérpretes deste disco dedicado a homenagear os ritmos brasileiros mais identificados com as nossas heranças africanas.
São dois cariocas mais identificados com o samba do Rio de janeiro prestando uma homenagem as nossas várias matrizes de origem africana espalhadas pelo Brasil.
São quatorze canções arranjadas e executadas por músicos identificados com os gêneros: Rildo Hora e Mauro Diniz, por exemplo, fizeram arranjo para os sambas. O baiano Luiz Brasil se ocupou com o ijexá e a capoeira. O maranhense Zé Américo fez os arranjos de baião, xote, Boi do Maranhão e o goiano Bororó cuidou com maestria da catira
O disco conta as participações especiais de Martinho da Vila na capoeira “Camafeu”de sua autoria; Rio Maracatu, também responsável pelos arranjos no pout-pourri e maracatus; de Wilson das Neves no Jongo da Serra e ainda de Agrião no samba enredo “Singrando em mares bravios.
No Jongo da Serra, de autoria de Cláudio Jorge e Nei Lopes, o convite foi feito a Wilson das Neves por conta da música ter sido feita em homenagem a ruas e nomes ilustres da Serrinha, um dos mais fortes redutos do jongo no Brasil. Nada melhor do que um nobre representante do Império Serrano, como Wilson, para completar esta homenagem.
No caso de “Singrando os mares”, Agrião foi convidado por ser um dos autores do samba em parceria com Jonas, Cláudio Jorge e Luiz Carlos. Este samba foi derrotado na disputa para o samba enredo do carnaval de 2004 na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel.
TEXTOS DO ENCARTE E FICHA TÉCNICA
MATRIZES
A cultura negra e a música popular brasileira
(Cláudio Jorge)
E aí o Xico Teixeira, diretor da Rádio MEC, virou pra mim e disse: vamos fazer um disco falando da cultura negra na música popular brasileira? Meus olhos brilharam e minha cabeça, numa fração de segundo, começou a viajar. Saiu do Rio de Janeiro, foi até Angola, Nigéria, Cabo Verde, Moçambique, voltou pro Brasil entrando pela Bahia, passou em Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Maranhão, Espírito Santo, deu um salto em Goiás e voltou para o Rio de Janeiro.
Seguindo na viagem começamos a bolar o projeto e em poucos dias constatamos que era impossível a realização nos moldes que havíamos pensado simplesmente porque essa cultura é imensa, a variedade de ritmos é enorme e tudo isso não cabe em uma modesta mídia de 14 faixas.
A partir daí foi um lento processo de amadurecimento da idéia. Como se estivéssemos preparando uma comida, em fogo brando, mas constante, feito um peixe daqueles que meu pai me ensinou a preparar. (À propósito, durante as gravações o arranjador Zé Américo cobrou minha promessa de 20 anos atrás de que lhe faria este peixe e até hoje não conseguimos realizar essa história por puro relaxamento).
Primeiro escapamos da idéia, mais ou menos óbvia, de fazer um disco com vários convidados ilustres. Depois, quando começamos a pensar com que artista fazer o CD, o acaso entrou em cena com todo o seu poder e mexeu lá no fundo da minha memória trazendo à tona um convite que me foi feito pelo Luiz Carlos da Vila: “precisamos fazer um trabalho juntos cantando. Você é meu parceiro, produtor, somos amigos a séculos. Precisamos registrar isso em disco”.
Nessa hora os olhos do Xico, da Solange e do Amaury é que brilharam e aí detonamos todo o processo.
Viajei pra Portugal com Martinho da Vila e lá, com a ajuda do meu amigo Alan Romero, começamos a montar o repertório. Eu de lá e Luiz Carlos da cá. Kiko Horta, meu parceiro de quarto, também me deu umas dicas e elegemos 14 ritmos nitidamente identificados com a origem também africana do povo brasileiro e os chamamos de “Matrizes”, por terem eles servido de base, de alguma forma, para boa parte daquilo que chamamos de Música Popular Brasileira.
Você não imagina o sarro que tiramos durante as gravações não só pelo fato de termos convidado músicos e arranjadores identificados com essas “Matrizes”, como também pelas participações especiais de Agrião, Martinho da Vila, Rio Maracatu e Wilson das Neves.
Enfim, como diz a gíria, foi “mamão com açúcar” este presente que a Rádio MEC nos deu com o convite e o fato deste disco estar sendo lançado nas proximidades de 20 de novembro, Dia da Consciência Negra onde se homenageia Zumbi dos Palmares, aumenta o nosso prazer com este trabalho. Aproveitamos então para dedicar “Matrizes” àqueles negros primeiros que para cá vieram e que através da convivência entre pessoas de tantas tribos distintas geraram este tesouro que é a nossa música popular patrimônio hoje de todos os brasileiros.
Chamamos ainda a atenção para o fato deste disco não ter a pretensão de ser um trabalho didático, tampouco de pesquisa, nem nos sentimos na obrigação de estarmos o tempo todo fiéis aos formatos originais dos ritmos aqui contemplados. Este disco é antes de mais nada uma celebração, um encontro de amigos, enfim, mais um motivo pra se tomar um chope e se divertir bastante. Kizomba é o nome que costumam dar lá em Angola a estes encontros e disso o Luiz Carlos da Vila entende muito bem, não é mesmo?
01 – O DAQUI, O DALI E O DE LÁ (Samba)
(Serginho Meriti e Bira da Vila)
SAMBA - O samba é dos ritmos brasileiros o mais conhecido em todo mundo. É um ritmo síntese que contém em si vários outros, além de ter muitas variantes. A sua execução é das mais complexas, em qualquer instrumento, requerendo do executante ou do intérprete , na maioria das vezes, uma intimidade natural fruto da vivência no chamado “mundo do samba”. Ao ouvirmos este Samba de Serginho Meriti e Bira da Vila vimos nele a síntese do que se propõe em “Matrizes”.
É preciso mexer, misturar
O daqui, o dali e o de lá
Pois o nosso tempero
Tem Samba, tem xote
Tem frevo, embolada,
Balada e ijexá
É só botar pra tocar
Que o povo vai curtir
A galera vai gostar
Nossa gente é isso aí, vai
Vai no embalo do Maracatu
Vaquejada, jongo, caxambú
Carimbo, sertanejo, merengue, lambada
Forró pé de serra, coco, boi bumbá
Xaxado, calango, reisado e axé
Toca aí que a gente diz no pé
Toca aí que a gente diz no pé
Toca um bom Samba de enredo
Um Samba de roda, pagode e baião
Toca de tudo que toque o nosso coração
Um coração verde e branco, azul e amarelo
É canto, é dança, é ritmo, elo
Firmando a corrente da nossa nação
Toca quadrilha, congada, fandango,
Lundu e sarabacuê
Bumba meu boi, caiapó
Toca makulelê
Cateretê, moçambique
Quilombo, umbigada
Caboclinho lambe sujo e marujada
Muita timbalada e o tererê
Arranjo: Mauro Diniz
Cavaquinho: Mauro Diniz
Violão: Cláudio Jorge
Flautas: Humberto Araújo
Pandeiro, ganzá e triangulo: Ovídio Brito
Tantan, tamborim e reco-reco: Beloba
Repique, agogô e surdo: Marcelinho Moreira
Coro: Analimar, Cláudia Teles, Jurema de Candia , Mariama., Richa, Ary Bispo e Cavalo.
03 - PAU DE ARARA (Baião)
(Luiz Gonzaga e Guio de Moraes)
BAIÃO - Este é um baião clássico conhecido na voz de Luiz Gonzaga, o Rei do gênero. Dando uma de Rádio Relógio: Você Sabia? Que o baião e o samba talvez sejam os ritmos brasileiros que mais se utilizam da figura musical denominada “sincope”?
Quando eu vim do sertão, seu moço,
Do meu Bodocó
A malota era um saco
E o cadeado era um nó
Só trazia a coragem e a cara
Viajando num pau de arara
Eu penei, mas aqui cheguei
Eu penei, mas aqui cheguei
Trouxe um triângulo, no matolão
Trouxe gonguê, no matolão
Trouxe um zabumba dentro do matolão
Xote, maracatu e baião
Tudo isso eu trouxe no meu matolão
Arranjo: Zé Américo
Acordeon e percussão: Zé Américo
Bateria: Camilo
Baixo: Fofão
Violão: Marcos Arcanjo
05 - CAMAFEU (Capoeira)
(Martinho da Vila)
CAPOEIRA – Embora a capoeira não seja exatamente um ritmo e sim uma luta desenvolvida pelos negros no Brasil, tem sua parte musical fundamentada no ijexá com um instrumental executado por atabaque, pandeiro e berimbau. O universo musical da capoeira serviu de fonte de inspiração para muitas composições da musica popular. Escolhemos esta canção de Martinho da Vila por ela nos remeter ao universo da Bahia, habitat dos grandes mestres da capoeira. A homenagem a Camafeu de Oxossi, Mãe Menininha, Olga de Alaketo e Mestre Pastinha tem tudo a ver com o objeto deste disco.
Camafeu cadê Maria de São Pedro?
Foi passear
E o passeio de Maria
Fez a Bahia chorar
Maria foi lá pra longe
Maria não vai voltar
Mas deixou sua família
Pra seu nome cultuar
Nanaina, nanaina
Nanaina, Mãe Zulmira
Nanaina, nanaina
Nanaina, o Jacira
Camafeu, cadê Mestre Pastinha?
Tá com oitenta pra lá
Ainda joga capoeira
Com quem tem vinte pra cá
E por Olga de Alaketo não precisa perguntar
Encontrei Mãe Menininha
Perto do seu casuá
Lalaila, lalaila, lalaila, Lalaila.
Camafeu, Camafeu cadê você?
Tô em todo lugar
To vendendo bugiganga
No mercado popular
Se o mercado está fechado
Pego o barco e vou pescar
Samba no mar
Samba no mar
Samba no mar da Bahia
Samba no mar
Arranjo e violão: Luiz Brasil
Baixo: Alberto Continentino
Sax soprano: ?
Percussão: Leonardo
Percussão: Nailson
Coro: Analimar, Claudia Telles, Jurema de Cândia e Mariama
Participação especial: Martinho da Vila
07 - DAS ORIGENS (Partido alto)
(Luiz Carlos da Vila)
PARTIDO ALTO – Dizem os especialistas que o partido alto é a mais nobre das expressões do Samba . Os bambas no assunto são muitos e podemos destacar Xangô da Mangueira e Aniceto do Império. Este partido de Luiz Carlos é uma homenagem a estes mestres. Alem da batida diferenciada o partido alto se caracteriza pelos verso de improviso.
O Samba que desde a origem é arte
Das coisas boas da vida é parte
O negro na antiga senzala
Um canto entoava e batia na mão
Pra aliviar a tensão
O negro plantava a lavoura
E as raízes profundas de uma canção
Morre a planta, o Samba não
Refrão
O Samba foi combatido
Espancado, oprimido
Mas não se entregou e doeu
Que gente forte, graças a Deus
Foi uma luta sofrida
De morte e de vida
Que muito valeu
Que finalmente ele venceu
Arranjo: Rildo Hora
Gaita: Rildo Hora
Violão: Cláudio Jorge
Cavaquinho: Mauro Diniz
Repique e surdo: Marcelinho Moreira
Pandeiro: Ovídio Brito
Tan-tan: Beloba
Coro: Analimar, Cláudia Teles, Jurema de Candia, Mariama, Richa, Ary Bispo e Cavalo.
02 – CONGADA DE SÃO BENEDITO (Congada)
(Cláudio Jorge e Nei Lopes)
CONGADA - Este é um dos ritmos que pode se apresentar de várias formas conforme a região do pais. Escolhemos a congada do tipo cultuada no estado do Espírito Santo.
Repica marimba, responde o tambor
A minha embaixada do Congo chegou
Da Rainha Ginga sou embaixador
E São Benedito é o meu protetor
No tempo que havia rei
No Espírito Santo, amém
Muito sangue então jorrou
Um negro fora da lei
Por não querer ver ninguém
Se escravo e nem senhor
ta
No Porto de São de Mateus,
No Largo do Chafariz
Na chibata se acabou
Mas dizem pela mão de Deus
Por São Benedito quis
E o negro então se encantou
Esse negro libertário
Que valia o infinito
Meia Légua se chamou
A Senhora do Rosário
Junto com São Benedito
O seu corpo consagrou
Ele hoje é uma estrela
Iluminando a noite
No Porto de São Mateus
Demonstrando pra quem vê-la
Que nada vale o açoite
Quando se tem fé em Deus.
Arranjo e violão: Cláudio Jorge
Baixo: Bororó
Flautas: Humberto Araújo
Sanfona: Kiko Horta
Paulino Dias: Repique e reco-recos
Bruno Abreu: Alfaia e triângulo
Tiago: Atabaque e ganzá
Coro: Analimar Ventapani, Claudia Teles, Jurema de Cândia e Mariama.
04 – CAMISA MOLHADA (Samba de roda)
(Riachão)
SAMBA DE RODA - Estilo de samba muito presente no recôncavo baiano. Alguns estudiosos defendem que essa manifestação rural inspirou a criação do samba carioca. Muitos foram os que compuseram no estilo. Batatinha, no passado, Roque Ferreira e Riachão, na atualidade , são destaques.
Onde eu cheguei está chegado
Se agrade se quiser
Onde eu cheguei está chegado
Sen não gosta de mim dê no pé
Tô de camisa molhada
Samba que eu entro é fogo
Invado a madrugada
Tô de camisa molhada
Se é malandro não corra
Fique pra topar a parada
Arranjo: Cláudio Jorge
Cavaquinho: Mauro Diniz
Violão: Cláudio Jorge
Viola: Luiz Brasil *
Pandeiro, ganzá e triângulo: Ovídio Brito
Tan-tan, tamborim e reco-reco: Beloba
Repique, agogô e surdo: Marcelinho Moreira
Coro: Analimar, Cláudia Teles, Jurema de Candia e Mariama.
06 - COCO DO NORTE (Coco)
(Rosil Cavalcante)
COCO – O Coco, assim como o maracatu e a congada, tem várias formas de execução conforme a região do Brasil. Um dos seus maiores intérpretes do coco, na música de consumo, foi Jackson do Pandeiro e a inclusão desta canção é uma homenagem a ele. Em destaque no arranjo os pandeiros executados por Bruno, Tiago e Paulino.
Responde esse coco com palma de mão
Isso é coco do norte, nunca foi baião
Num coco do norte tem caracaxá
Zabumba, ganzá, poeira do chão
Coqueiro fazendo improvisação
Compadre e comadre seguro na mão
Batendo umbigada
Com palma de mão
Tem coco praieiro na terra batida
Que é dança querida na beira do mar
O vento a soprar
A onda quebrando
A lua espiando com satisfação
Isso assim é coco nunca foi baião
No coco do norte
Tem Pedro, tem Joca
Tem Dida, tem Noca
Tem Paulo, tem João
Tem Xica cantando
Tem Sebastiana,
Dedé e Joana na palma de mão
Isso assim é coco
Nunca foi baião
Arranjo e violão: Cláudio Jorge
Sax tenor: Humberto Araújo
Pandeiro e palmas: Bruno Veiga
Pandeiro, e palmas: Paulino Dias
Pandeiro, gonguê e palmas: Tiago
Coro: Analimar Ventapani, Claudia Teles, Jurema de Candia e Mariama.
08 – Pout-pourri de Maracatu
A história da cultura brasileira se assemelha em todas as regiões do Brasil no que se refere ao direito que o negro tem de viver sua própria cultura.. Foi assim no Candomblé, no Samba e também no Maracatu. Em algum momento a Coroa Portuguesa “autorizou” que os negros elegessem seus reis e rainhas e isso era feito partindo-se das várias etnias africanas que vieram para o Brasil. Com a palavra, o Rio Maracatu:
- Esta faixa é um pout-pourri de três toadas de Nações de Maracatu tradicionais do Recife/PE. A primeira é do Leão Coroado, a segunda do Estrela Brilhante e a terceira do Porto Rico. Queremos agradecer e reverenciar os Mestres Afonso Aguiar, Walter França, Shacon Viana, batuqueiros, dançarinos e todos que trabalham com a arte do maracatu de baque virado, pelo constante aprendizado e pelo incentivo ao nosso trabalho. Este trabalho é dedicado a eles. (Rio Maracatu)
Samba Lê Lê támutá
(Maracatu Leão Coroado)
Samba Lê Lê támutá
Nós viemos de Luanda
Minha gente vem ver
O Leão onde anda
Virgem do Rosário
(Maracatu Estrela Brilhante)
Foi na virgem do Rosário
Que os nossos tambores zoou
Zoou, zoou
Marivalda rainha ela já se coroou
Canta minha nação
Brilha o meu pavilhão
É no som dos tambor
Que Estrela é nação Nagô
Zoou, zoou
Marivalda rainha ela já se coroou
Oleroê, oleroa
(Maracatu Porto Rico)
Oleroê, oleroa
Oleroê embarcou na beira
Na beira mar é do meu coração
Esse maracatu Porto Rico
É da opinião
Arranjo: Rio Maracatu
Caixa,coquinho e ganzá: Bruno Abreu
Alfaia, abê (xequerê), djembê, gonguê: Tiago Magalhães
Alfaia, Abe: Adriano Sampaio
Alfaia, Abe: Francisco Chicote
Viola de 10 cordas: Cachaça
Voz: Patricia Oliveira
Voz e flauta: André Bala Bala
Coro: Patricia Oliveira, Lysia, André Bala Bala, Tiago Magalhães, Cachaça
Violão: Cláudio Jorge
Participação especial: Rio Maracatu
09 - MOÇA BONITA (Xote)
(Geraldo Azevedo e Capinan)
XOTE - Dizem os entendidos no assunto que a origem do xote está no “Schotinch” do folklore escocês. Não conseguimos imaginar como ele foi parar no nordeste brasileiro, a não ser por aquela história do “for all” e tudo o mais, contada pelo Gonzagão. Como ele veio no “matolão”, segundo o próprio Lua e Guio de Moraes, resolvemos incluir este ritmo no nosso disco, até para exemplificar o que aconteceu com uma música escocesa quando ela entrou em contato com a cultura africana e indigena aqui no Brasil.
Moça bonita
O seu corpo cheira
A botão de laranjeira
Eu também não sei se é
Imagine o desatino
É o cheiro de café
Ou é só cheiro feminino
Ou é só cheiro de mulher
Moça bonita
O seu olho brilha
Qual estrela matutina
Eu também não sei se é
Imagine a minha sina
É o brilho puro da fé
Ou é só brilho feminino
Ou é só brilho de mulher
Moça bonita
O seu beijo pode
Me matar sem compaixão
Eu também não sei se é
Ou pura imaginação
Pra saber você me dê
Esse beijo assassino
Nos seus braços de mulher
Arranjo: Zé Americo
Acordeon e percussão: Zé Américo
Bateria: Camilo
Baixo: Fofão
Violão: Marcos Arcanjo
Coro: Analimar, Claudia Telles, Jurema de Cândia e Mariama
10 - CANTO DA EMA (Boi do Maranhão)
(João do Vale)
BOI DO MARANHÃO – O bumba-meu-boi é outra manifestação musical brasileira que pode variar na forma e no nome, dependendo da região. Embora essa canção não tenha sido composta no ritmo do boi, escolhemos o “Canto da ema”, do compositor maranhense João do Vale, para apresentá-la neste ritmo.
A ema gemeu no tronco do jurema
Foi um sinal bem triste, morena
Fiquei a imaginar
Será que é o nosso amor, morena
Que vai se acabar
Você bem sabe que a ema quando canta
Vem trazendo no seu canto
Um bocado de azar.
Eu tenho medo, pois acho que é muito cedo
Muito cedo meu benzinho
Pra esse amor se acabar
Vem morena,
Vem, vem, vem
Me beijar
Dá um beijo
Pra esse medo se acabar
Arranjo: Zé Americo
Acordeon: Zé Américo
Bateria: Camilo
Baixo: Fofão
Violão: Marcos Arcanjo
Banjo: Zepa
Flauta: Victor Neto
Percussão: Papete
Coro: Analimar, Cláudia Teles, Jurema de Candia , Mariama, Richa, Ary Bispo e Cavalo.
11 – JONGO DA SERRA (Jongo) (Música incidental – Tia Eulália na xiba)
(Cláudio Jorge e Nei Lopes)
JONGO - A Serrinha no Rio de Janeiro é um tradicional reduto do jongo. Manifestação carregada de forte cunho religioso o jongo permanece na nossa memória musical e isso se deve muito ao prazer e dedicação de alguns moradores da Serrinha com essa musica e dança. Este Jongo da Serra é uma homenagem a essas pessoas e Nei Lopes alinha nessa letra nomes de rua e de personalidades daquela localidade. Tiago, por exemplo, um dos músicos que atua na faixa é morador da Rua Doutor Joviniano e, como tantos outros, um jovem discípulo de Mestre Darcy do Jongo.
Pescador Josino
Tá pescando lambari
Mas Joviniano, Doutor
Diz que tá ruim
Na beira do rio vovô
Muito maroin
Esse jongo é mocorongo
Mas é ruim desamarrar
Me diz qual a ferramenta
Do escultor pra desbastar
E a planta de cor vermelha
Que semeia o verde mar
O imperador que é Fuleiro
Molequinho de Sinhá
Desce mano a balaiada
Pra uma cilada evitar
Viva o homem Jesus Cristo
Quero ver desamarrar.
Arranjo e violão: Cláudio Jorge
Baixo: Bororó
Surdo e palmas: Bruno Abreu
Candongueiro e palmas: Tiago
Cachambu, tambu e palmas: Paulino Dias
Coro: Analimar, Claudia Telles, Jurema de Caândia e Mariama
Participação especial: Wilson das Neves
14 - SINGRANDO EM MARES BRAVIOS (Samba enredo)
(Agrião, Cláudio Jorge, Jonas e Luiz Carlos da Vila)
SAMBA ENREDO – Trilha musical dos desfiles das escolas de samba, vem sofrendo mudanças radicais ao longo dos últimos anos, principalmente no andamento. Muitos foram os mestres no assunto onde se destaca Silas de Oliveira, do Império Serrano. O Samba aqui incluído participou das disputas da nossa Vila Isabel no ano de 2004 e a ela e a nossos parceiros, dedicamos esta gravação.
Olokum
Senhor dos mares
Hoje a Vila vem pedir passagem
Um arco íris trança uma aliança
Terra, céu, boa maré.
Triunfo da esperança
Vida de bonança, arca de Noé.
E vieram civilizações
Caravela singrou de Sagres.
Geograficamente um novo mundo emergiu
Que a ambição insana perseguiu
Cara pálida sangrou os mares
De Palmares, lares e porões
A flecha à capoeira se uniu
Daí nasceu de corpo e alma o Brasil
Oh! Mãe África
Sou fruto da sua raiz
Nova África
Que floresceu nesse país
Viva o Dragão do mar
O cisne branco a brilhar
E os heróis da guerreira
Nação jangadeira
Do mar de Iemanjá
E hoje, seguindo a rota
Do Barão de Mauá
A indústria da navegação vai estar
Com o progresso em lua de mel
Brindar o desempenho de um papel
E mostrar para o povo
Que o berço do Samba
É em Vila Isabel
Arranjo e violão: Cláudio Jorge
Cavaquinho: Mauro Diniz
Pandeiro, cuíca, surdo de segunda e caixa: Ovídio Brito
Tan-tan e repique: Beloba
Repique, surdo e caixa: Marcelinho
Coro: Analimar, Cláudia Teles, Jurema de Candia , Mariama., Richa, Ary Bispo e Cavalo
Participação especial: Agrião
12 – DE ONDE VEM ESSE SAMBA – (Catira)
(Pádua)
CATIRA - Fomos buscar em Goiás, através do músico goiano Bororró, essa catira do compositor Pádua, que reflete muito bem em sua letra um pouco da história da mistura das culturas no Brasil.
De onde vem esse samba
Que chegou sem avisar?
Vem da boca da noite
Que o menino trouxe
Para clarear...
Vem trazer alegria
Ao povo tristonho
Que está no terreiro
Não é mico-de-circo
Não chega imitando
O que vem do estrangeiro
Canta a língua do povo
Que não tem vergonha
De ser brasileiro
Quem pode dá dinheiro ôô!
Quem pode dá dinheiro
Quem não pode sacode
Da mesma maneira
Sem ter que pagar
Baticum de parente
Trazendo alegria
Para clarear...
No coração do Brasil
A semente floriu
Vinda dos ancestrais
Da Bahia pra Minas
Navio negreiro
Chegou em Goiás
E o samba do cerrado
Foi abençoado pra gente cantar
Partilhando esperança
Mãe-preta anuncia o dia raiar...
E o dia raiou meu rei!
E tinha que raiar...
Batucada goiana, Bis
É congada é catira
Pro povo dançar
Arranjo: Bororó
Violões, baixo, violas, palmas e sapateado: Bororó
Percussão, palmas e sapateado: Paulino Dias
Palmas e sapateado: Cláudio Jorge
Coro: Ary Bispo, Cavalo e Richa.
13 - NEGRUME DA NOITE (Ijexá)
(Paulinho do Reco e Caiuba)
IJEXÁ – Ritmo de dança de cunho religioso atribuído a Oxum e Logum-Edé. Os blocos de afoxé desfilam na Bahia com o ritmo do ijexá.
Odé comorodé
Odé arerê odé
Comorodé ode
Odé arerê
O negrume da noite
Reluziu o dia
O perfil, o azeviche
Que a negritude criou
Constitui um universo de beleza
Explorado pela raça negra
Por isso o negro lutou, o negro lutou
E acabou invejado e se consagrou
Ilê, Ilê Ayê
Tu és o senhor dessa grande nação
E hoje os negros clamam
A benção, a benção, a bençāo
Arranjo: Luiz Brasil
Violões, viola e bandolim: Luiz Brasil *
Baixo: Alberto Continentino
Percussão: Leonardo
Percussão: Nailson
Coro: Analimar, Cláudia Teles, Jurema de Candia, Mariama, Richa, Ary Bispo e Cavalo.
Projeto gráfico
Com um primoroso trabalho gráfico de Norma Cury, a embalagem de “Matrizes” reproduz com elegância e bom gosto o universo da estética africana em nosso país ao mesmo tempo que revela nos detalhes toda a nossa brasilidade.
Foi um trabalho delicado e de dedicação que envolveu sessões de fotos em Santa Tereza a cargo da fotografa Ana Paula Oliveira com a participaçāo do grupo cultural “Pé de chinelo”, além de revelar o bom gosto na escolha das tiras coloridas (alusão aos maracatus e congadas) que acolheram os comentários sobre os ritmos e as fotos das participações especiais.